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sábado, 25 de julho de 2009

Realidade da Saúde Pública Brasileira

super cirurgião

Conto da vida real

Um dia na vida de um médico hoje em Recife-PE... que se repete em
todas as capitais brasileiras. Um país de vergonha.
Doze horas de plantão
Noite de sexta-feira. Às 19h quatro cirurgiões e mais outros
médicos,enfermeiras, auxiliares de enfermagem e pessoal de apoio
assumem a emergência do Hospital Otávio de Freitas. Muita gente tem
medo de trabalhar lá. É meio longe e perigoso o trajeto. A equipe
anterior passa três pacientes cirúrgicos, dois dos quais muito graves.
O Rx está quebrado. Apenas um anestesista no plantão, o outro está de
férias. Quer dizer, de férias desse emprego. Nunca conseguiu conciliar
as férias dos dois empregos. Os ortopedistas têm dois pacientes com
fraturas expostas para operar. Metade dos acadêmicos de medicina faltou
o plantão. Eles têm prova segunda-feira. Hoje em dia é assim.

É passada a situação para a Central de Regulação de Leitos. Eles
informam que a coisa está feia também nos outros hospitais. O HR tem
oito cirurgias indicadas. O HGV, seis. Dois cirurgiões sobem para
começar as cirurgias. Antes, uma junta médica relâmpago. Quem vai
primeiro? Faz-se o ranking. São 22h. Os pacientes com fraturas expostas
estão operados. O anestesista já está de mau humor. Já sentiu que a
noite vai ser comprida. Que sono! Prestes a começar a décima cirurgia
do dia. A sala de recuperação está lotada e não tem vaga na UTI. A
ambulância do hospital não pára de levar pacientes para fazer
radiografias no HGV. Uma paciente grave da enfermaria de clínica médica
desce às pressas para o setor de reanimação. Só tem um elevador
funcionando. Que aperto! Entubada. O maqueiro ventila a paciente. O
outro levanta o soro. O médico faz a massagem cardíaca. Ela parou de
novo. O suor do clínico escorre pela testa. A filha da paciente chora.
O coração volta a bater. Já se sabe: não há vaga na UTI. Ganhará na
loteria? Terá direito a um respirador na Reanimação? Graças a Deus.
Tem um Bird Mark 7. Um dos mais modernos da década de oitenta. A 1h da
manhã é atendido um senhor de 70 anos com dores fortes no abdome. Seu
nome: Severino. Veio do interior do Estado. Estava internado no
hospital local há três dias sem melhorar. Após ser examinado na única
maca disponível para atendimento, é medicado, solicitam-se alguns
exames e reserva-se sangue. Tem que desocupar a única maca disponível
para atendimento. É colocado numa cadeira no corredor com seu
acompanhante segurando o soro. Em meio a face de sofrimento e a postura
curvada pela dor, ainda consegue esboçar um sorriso e dizer:
"primeiramente Deus, depois o senhor, doutor." Aguardará até chegar sua
vez. Ele tem um abdome agudo e necessita ser operado. Qual a causa? Uma
úlcera perfurada? Não dá muito tempo para raciocinar. Mandá-lo para o
HGV fazer uma radiografia? É judiar demais. Está indicada a cirurgia e
ninguém tem dúvida. Bate fome. Alguns nem jantaram. Pede-se um lanche.
Aqueles sanduíches cheios de gordura com refrigerante e uma conversa de
cinco minutos foi o combustível para continuar. Chega a vez do Sr.
Severino. São 3h da manhã. Os cirurgiões se revezam na madrugada.
Sempre dois operando, um atendendo e outro descansando.
Chove lá fora. O movimento diminui. Uma sirene. Som não desejado. Chega
um paciente baleado no abdome em choque hipovolêmico. Trazido por
policiais com história de que estava assaltando e matou um pai de
família. Tem 19 anos. Conhecido como Rico. Ricardo? Ele nem fala.Acorda
quem estava dormindo para ajudar. Veia, volume, sangue. Às pressas é
levado ao centro cirúrgico. É operado, sai da sala de cirurgia às 7h30.
Estável. Sr. Severino sobrou. Os cirurgiões estão exaustos de uma noite
toda operando. São rendidos por outra equipe que por azar está
desfalcada. Tem um cirurgião de férias e o outro foi assaltado na vinda
para o hospital. Levou um tiro no antebraço. Passa bem. Comentam
rapidamente quanto cada um recebeu de produtividade este mês. Os
valores variam de R$37 a R$178,00. Algumas risadas. Um nota que a
barriga do outro está crescendo. Outro comenta o sucesso da madrugada.
Um ar de orgulho e superação. Fora outras lesões, realizou uma boa
abordagem e reparo numa lesão de veia cava. É a segunda vez da sua vida
que ele opera este tipo de lesão. Um dos cirurgiões que está saindo vai
correndo para casa. Tem oito chamadas não atendidas no seu celular. Sua
esposa também é médica. Está de plantão no sábado 24h numa maternidade e
ele tem que cuidar do filho. Ambos atrasados. Os outros três vão para
seus respectivos hospitais onde fazem residência.Todos já são
cirurgiões formados e estão fazendo uma segunda residência em
especialidades diversas. São cinco anos de formação em média fora os
seis de curso. Engraçado, ninguém tem cabelo branco. O mais velho tem
30 anos. Há dez anos tinham mais cabeças brancas na linha de frente.
Bom, um novo plantão já começou. Só dois cirurgiões.
Depois de evoluírem os muitos pacientes internados na própria emergência
em macas há dias, fecham o atendimento a pacientes cirúrgicos e sobem
para começar as cirurgias. Já chegaram mais pacientes cirúrgicos e o
cirurgião já começou o dia brigando com os médicos da central de
regulação por que eles estão sozinhos e eles continuam mandando
pacientes. Parecem jogadores do mesmo time brigando quando o time, ou o
clube, ou o técnico vão mal.
A enfermeira chama:
tem um paciente parado no setor de Reanimação. Era Sr. Severino que
aguardava por cirurgia e caiu no chão próximo ao banheiro. Foi
arrastado pelos próprios pacientes e acompanhantes até a Reanimação. A
reanimação cardiorespiratória é feita no chão. Ele não resiste. Uma
semana depois o Rico teve alta para o presídio e voltará três meses
depois para reconstruir o intestino. Saiu com uma colostomia. /O
MÉDICO BALEADO FICARÁ TRÊS MESES SEM OPERAR. / /O CASAL DE MÉDICOS E
SEU FILHINHO SE ENCONTRARAM DOMINGO À NOITE. ELE TINHA MAIS UM PLANTÃO
NO DOMINGO DIA. O LANCHE CUSTOU R$37. / A família humilde do Sr.
Severino aceitou a "vontade de Deus".
(Nomes de personagens fictícios. Fatos reais.)
Roberto Santos Lima
Cirurgião Hospital Otávio de Freitas

"Tudo o que os jovens podem fazer pelos velhos é escandalizá-los e mantê-los atualizados." Bernard Shaw

Recebi este conto por e-mail.


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10 Pareceres:

Dra Leandra Carneiro disse...

É assim aqui em BH/MG também, como deve ser em todo hospital referência no país para atendimento de SUS...
E assim caminha a humanidade!

Leia Nóis? disse...

infelizmente a saude publica no brasil é uma vergonha, nenhuma assistencia

Anônimo disse...

E eu, q nem médico sei ser?

Euzer Lopes disse...

Sabe o que eu mais fico impressionado?
Eu tenho 40 anos de idade, leio coisas do tipo desde minha tenra idade, quando não tinha um pelo sequer no corpo.
Então, são o que? 35 anos?
E esta situação não começou em 1974, foi bem antes.
Estamos em 2009, e está cada vez pior.
Ok.
Em 2069, quando eu tiver 100 anos (vivo ou morto), melhor nem ter hospital então.
Algo me diz que as benzedeiras do interior vão arrumar muito campo de trabalho nas grandes capitais.
Bons tempos aqueles em que os "remédios da vovô" curavam ate "espinhela caída"

Contamine-se e Espalhe disse...

Ótimo post, a triste realidade que muita gente conhece, mas é sempre bom lembrar.
Carolina, essa semana indicamos no site Banco de Saúde o seu blog como destaque. Òtimos posts, mostrando um pouco das notícias no campo da medicina, com um toque de humor e crítica.
Um grande abraço.

Cayo Nauan Siqueira disse...

Pois é... essa é a relidade do nosso país!!!
Querem ver mais? Assistam E24 na band que mostra tudo direito sobre o tema!!

Carolina Rosa MD disse...

Infelizmente é a realidade nacional...
O programa E24 mostra apenas 1 exemplo da realidade da saúde pública brasileira mas há serviços de saúde bem piores do que aqueles...

Guttwein disse...

Que relatos hein!! É pra ficar escandalizado mesmo... e se cada um que entrar aqui, for contar uma história que viveu ou que ouviu falar, esseserá o maior post de todos os tempos!! A saúde no Brasil é precária não é de hoje... e sequer quem tem plano de saúde está a salvo hoje em dia! : /

Taciana disse...

Ato médico será votado em agosto

A proposta aguarda a inserção na pauta da próxima reunião da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP), que é preciso mobilizar e conversar com cada deputado para pedir apoio ao projeto.

Veja a matéria completa e a lista dos deputados no portal FENAM: http://portal.fenam2.org.br/portal/showData/386093

Anônimo disse...

muita sacanagem!
=/
algumas profissões mereciam mais respeito e mais investimento para ser mais digna!
Acreddito q somente médicos de hospitais particulares é que têm condições boas para trabalho. Os da rede pública sofrem em demasia e devem se frustrar na própria profissão. Pois não significa somente um trabalho bem ou mal executado, e sim, VIDAS.

abs

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